quarta-feira, 1 de julho de 2015

CUT quer mudança imediata na política econômica

Stédile, do MST, participou de reunião da Executiva da Central e previu: “O movimento de massas voltará às ruas”

Escrito por: Igor Carvalho • Publicado em: 30/06/2015 - 16:54 • Última modificação: 30/06/2015 - 17:48
Foto: Martinho Souza/CUT-PA
Nesta terça-feira (30), durante a reunião de sua Executiva, a CUT, atacou a política econômica do ministro da Fazenda, Joaquim Levy e pediu unidade da esquerda na luta contra a direita e as elites.
“Nós temos que mudar essa politica econômica já. Ela vai provocar uma recessão e nos impede de avançar nos salários. Se entramos em recessão, a direita passa por cima da gente”, analisou o presidente da CUT, Vagner Freitas.
A crítica aos rumos da economia brasileira foi acompanhada pelo coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, que foi convidado para participar do encontro. Segundo o dirigente, as massas podem voltar às ruas protestando contra a perda de seus direitos. “Há uma insatisfação popular e ela vai estar nas ruas em breve, isso é certo.”
Para Stédile, há uma coincidência de três fatores que justificam o difícil momento enfrentado pelo País, são as crises econômica, social e política.   
Primeiro, Stédile falou da crise econômica. “A nossa economia não cresce há um ano. Essa crise nos mostrou como somos dependentes do capital estrangeira. Por mais ufanista que sejam os discursos, dizendo que somos a sétima economia do mundo, somos uma economia periférica.”
Stédile lembrou que o Brasil tem investido na economia apenas 14% do PIB, o que, segundo ele, impede o crescimento do País e deixa uma mensagem pessimista à nação. “A China pra crescer investe 30%, nos bons anos de Lula o Brasil investia 23%. Não precisa ser economista para saber que com essa taxa de investimento vamos ficar ainda uns dois anos estagnados.”
Sobre a crise social, o dirigente do MST lembrou que a classe trabalhadora tem sofrido para acessar direitos básicos, como moradia, transporte e saúde. Porém, Stédile foi enfático na crítica ao acesso, pela juventude, às universidades e voltou a falar na volta das mobilizações populares.
“Neste ano, se inscreveram quase 9 milhões de jovens nos vestibulares para 1,7 milhões de vagas em universidades. A sociedade brasileira não está apresentando alternativas aos jovens. Isso está criando um substrato de indignação que vai levar os jovens às ruas novamente. O que precisamos saber é: será conosco ou contra nós?”, perguntou.
A crise política tomou a maior parte do tempo usado por Stédile, que lamentou o fato do Congresso estar entregue aos empresários. “A democracia burguesa representativa virou uma farsa no Brasil. Os eleitores se lembram em quem votaram mas não reconhecem seus representantes. Há uma crise de representação política.
Há, segundo o debatedor, um esgotamento do “neodesenvolvimentismo”, modelo de gestão adotado pelo ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e pela atual presidenta Dilma Rousseff, “focado no pacto social”.
Segundo o dirigente do MST, há incoerência na insatisfação das elites brasileiras. “A classe média desse País nunca ganhou tanto dinheiro. Os médicos e professores universitários são as profissões que mais representam a classe média. Os médicos, por exemplo, ganham R$ 30 mil em média, mesmo assim 90% fez campanha contra a Dilma”, analisou.
Porém, diante da atual crise, Stédile apontou o que, para ele, é o projeto da burguesia para que o País saia do cenário atual. “Recompor o neoliberalismo, eles recompõe o projeto sugerindo, por exemplo, perda de direitos dos trabalhadores. Para concorrer com a burguesia internacional, precisa-se aumentar a taxa de lucro, nada melhor do que deixar de gastar com trabalhadores. Segundo, é o Estado mínimo. Para resolver a corrupção, eles pedem redução de gastos com servidores. Por último, o realinhamento da burguesia com os EUA.”
Por fim, Stédile elogiou a atuação da CUT nas ruas durante os meses de março, abril e maio. “Foi fundamental para que a crise não fosse, hoje, ainda maior”.
Unidade da esquerda
Seguindo o discurso de coalização dos setores de esquerda, colocado em prática durante o 1º de maio da CUT e na criação da Frente Nacional de Esquerda, que alcançou diversos movimentos sindical e sociais, Vagner pediu que os movimentos sindical e sociais dialoguem. 
“O dia que nós conseguirmos realizar aqui o que acontece na Argentina e na Venezuela, onde as pessoas se unificam para defender seu pensamento, podemos avançar. Nós precisamos nos unir não para disputar eleição, mas para disputar a atual conjuntura”, afirmou Vagner.